A “ansiedade” é um dos motivos mais frequente na procura por atendimento psicoterápico. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2017), o Brasil é o país com maior número de pessoas ansiosas no mundo: 9,3% da população.
Com objetivo de ampliar esses dados, atualmente, uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro revelou que recentemente o número de casos duplicou, em função do isolamento social, causado pela Pandemia do Covid 19. O estudo foi realizado com 1460 pessoas de 23 estados, entre os dias 20 de março e 20 de abril de 2020.
É importante salientar que, em situações extremas, estar ansioso é uma resposta fisiológica normal. Torna-se patológica quando os sintomas passa a ser muito intensos, caracterizando-se principalmente pela falta de controle emocional generalizada. Além disso, outros sintomas são comuns: reações físicas agudas, sensação contínua de medo, pensamentos negativos intensos, sudorese, insônia, entre outros.
No Código das Doenças Internacionais (CID-10) existem diferentes distúrbios relacionados aos transtornos ansiosos, como por exemplo: Transtorno de Ansiedade Generaliza, Síndrome do Pânico, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Pós Traumático, Fobia Social, entre outros. Todos acarretam muito sofrimento para os pacientes. Em todos esses quadros há um componente hereditário, mas a questão psíquica sobrepõe qualquer outra causa.
Para entender a constituição psíquica desses transtornos ansiosos é importante considerar as contribuições da psicanalise, de autores como Freud e Winnicott.
Freud, inicialmente, acreditava que a ansiedade se referia à conversão biológica direta da libido (energia sexual) frustrada ou bloqueada pela repressão. No entanto, sua experiência clínica o convenceu do inverso: não é a repressão que causa a ansiedade, mas pelo contrário, a ansiedade é que necessita da repressão. (FREUD, 1926). A partir de então (1926), no texto “Inibições, Sintomas e Angústia”, a ansiedade é entendida como um afeto experimentado pelo ego (“eu”) diante de um perigo que tem sempre o significado de temor e da perda do objeto.
Nesse trabalho, Freud aponta a distinção entre diferentes tipos de ansiedades: a ansiedade diante de um perigo real; a ansiedade automática desencadeada por uma situação traumática; e a ansiedade-sinal desencadeada por uma situação de perigo, na qual o ego (” eu”) se tornou capaz de prever a iminência de um perigo. Desse modo, Freud amplia sua visão biológica para uma visão que implica o psiquismo do indivíduo.
Em relação à repressão, Freud acreditava, inicialmente, que o motor desse mecanismo era a ansiedade de castração. A partir de 1926, observa a existência de um perigo mais geral: o perigo da separação e da perda do objeto (mãe). Afirma que a ansiedade é a expressão de um desamparo no bebê. Freud (1926) distingue entre desamparo físico e desamparo psíquico e acrescenta que a ansiedade automática está relacionada à perda de um objeto real, enquanto que a ansiedade sinal, psíquica, está relacionada ao temor da perda do objeto.
Para Winnicott, psicanalista inglês, pós freudiano, a excessiva ansiedade de separação é considerada um distúrbio no desenvolvimento emocional do bebê, em decorrência de um fracasso na relação mãe-bebê, durante os primeiros meses de vida. Aos poucos, o ambiente (no primeiro momento, representado pela mãe) serve de suporte ao ego (“eu”) e é “introjetado” e assim, a criança desenvolve verdadeiramente a capacidade de estar só, embora inconscientemente exista a representação interna da mãe e dos cuidados que ela proporcionou ao filho (1958).
Considerando o que foi proposto por Freud e Winnicott sobre a ansiedade, depreende-se a importância das vivências no primeiro ano de vida na constituição desses quadros ansiosos. Em função disso, ressalta-se a relevância de um trabalho preventivo com pais para orientar e evitar a constituição desses casos. Para os pacientes que já se encontram em sofrimento, a psicoterapia psicanalítica contribui muito para a melhora, pois pode ajudá-los a compreender essas vivências, que em geral, são marcadas por conteúdos inconscientes, e com isso, buscar novas significações para essas experiências.
FREUD, S. Inibições, Sintomas e Angústias.In: Edição Standard Brasileira (v. XX). Rio de Janeiro: Imago, ([1926] 1974).
Organização Mundial de Saúde. Relatório Mundial de Saúde. Disponível em: www.who.int Acesso em out. 2020.
WINNICOTT, D. Tudo
WINNICOTT, D.W. A capacidade para estar só (1958). In: _______. O ambiente e os processos de maturação, estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988