O processo de luto é algo inevitável durante a vida, pois todo ser humano, do nascimento a morte, enfrenta várias perdas reais ou simbólicas, que os fazem lidar necessariamente com o luto, por isso a importância da compreensão desse tema. Além disso, o tema se torna ainda mais relevante, considerando-se o contexto atual de pandemia do COVID 19, no qual muitas pessoas estão vivenciando no Brasil e no mundo a perda real de familiares e amigos.
Com objetivo de compreender esse processo, vale mencionar a pesquisa realizada por Elisabeth Kubler-Ross (1926-2004), que estudou as reações psíquicas de pacientes em estado terminal. Ela identificou na sua pesquisa diferentes fases no processo de luto. Segundo essa autora, o processo de luto ocorre em 5 fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. A autora ressalta que esse processo é vivido de forma diferente por cada pessoa, mas que em geral, atravessa esses 5 momentos, sendo necessário adotar determinadas estratégias para chegar à aceitação final.
O luto é caracterizado como uma perda de um elo significativo entre uma pessoa e seu objeto, portanto por um fenômeno mental natural e constante durante o desenvolvimento humano, por isso as ideias de luto não se limitam à morte real de uma pessoa. O processo de luto é muito mais amplo. Durante toda a vida, enfrentam-se sucessivas perdas reais e simbólicas, que são fundamentais para o desenvolvimento. O próprio crescimento implica em perdas, como na adolescência, a perda pelo “corpo infantil” e, igualmente, na velhice, o declínio das funções orgânicas proveniente do envelhecimento.
A capacidade de o indivíduo se adaptar, desde a infância, às novas realidades provenientes das perdas, servirá de “modelo”, para os novos enfrentamos. As experiências de perdas vivenciadas durante o desenvolvimento constituem em modelos de estados psíquicos que são incorporados na mente e poderão ser vividos em situações semelhantes ulteriores.
Freud (1926) constatou que as primeiras experiências traumáticas constituem o protótipo dos estados afetivos, que são incorporados à mente, e quando ocorre uma situação semelhante são revividos como símbolos mnêmicos.
Na psicanálise, o processo de luto se refere a uma reação de perda, que remete a perdas muito significativas na tenra infância, como a perda do “seio” pelo bebê no período de desmame. Segundo Freud, diante de uma situação dolorosa ocorre uma “catexia” (energia) concentrada no objeto que se sente falta ou foi perdido. A elaboração e superação ocorrem sobre a influência do teste de realidade, fundamental para constatação que esse objeto não mais existe. O teste de realidade possibilita que a energia vá se desligando do objeto perdido, permitindo que o ego se torne mais livre e que a pessoa procure novos interesses.
No luto adulto, embora se trate de uma perda real, a elaboração é semelhante a situação vivenciada na tenra infância. Nesse processo podem ocorrer desdobramentos patológicos, como por exemplo, a melancolia, descrito por Freud (1915), no qual a pessoa apresenta sintomas semelhantes aos descritos no luto, mas há uma severa perturbação da autoestima. Essa patologia está relacionada também a vivências bem primitivas na infância.
Em síntese, considerando-se o que foi mencionado, percebe-se a importância e complexidade do tema em questão. É preciso entender o processo de luto e oferecer tempo e acolhimento para que a pessoa enlutada supere esse processo. No entanto, em processos patológicos e/ou de difícil elaboração, é preciso procurar ajuda especializada de um psicólogo para facilitar esse processo tão doloroso.
CAVALCANTI, A.; SAMCZUK, M; BONFIM, T. O Conceito psicanalítico do Luto: Uma Perdprctiva a partir de Freud e Klein. Revista Psicologia Informação. Ano 17, n, 13, jan/dez 2013.
FREUD, S. Luto e Melancolia. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, ([1915] 1977).