A depressão é um transtorno psicológico que afeta milhões de pessoas, de diferentes idades, em todo mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que mais de 300 milhões de pessoas sofram com essa doença. No Brasil, são 12 milhões de pessoas atingidas pela depressão, colocando o país, como segundo lugar no “ranking” mundial, atrás somente dos Estados Unidos.
Segundo o Código das Doenças Internacionais (CID-10), a depressão é um transtorno que tem como principais sintomas o comprometimento do humor, a falta de motivação e a perda dos interesses e da alegria, por um período contínuo de pelo menos duas semanas. Além disso, podem surgir os seguintes sintomas adicionais: perda da autoestima, diminuição da capacidade de concentração, agitação ou inibição motora, distúrbio do sono, falta de apetite e várias queixas físicas. Diferencia-se da tristeza pela persistência e intensidade dos sintomas, podendo ocorrer delírios, alucinações, desespero e desesperança, o que pode levar ao suicídio. A depressão é um dos principais transtornos mentais que leva ao suicídio, por isso é importante entender melhor essa doença.
As depressões podem ser marcadas por episódios específicos, caracterizados pela sintomatologia citada anteriormente e classificados como: leves, moderados ou graves. Além disso, a depressão também pode se apresentar de forma duradora (crônica), conhecida pelo nome de distimia, que começa, geralmente, nos primeiros anos de vida e dura anos, podendo até mesmo, perdurar pela vida inteira. Sua sintomatologia é menos marcante, mas predomina a exaustão ou cansaço, tudo é vivenciado como esforço. Vivem também insatisfeitos e geralmente, dormem mal.
Do ponto de vista psicológico, a psicanálise nos fornece importantes contribuições para compreensão da origem e sintomatologia dos estados depressivos. De um modo geral, a depressão na psicanálise é entendida como um processo normal, vivenciado em um período muito primitivo do desenvolvimento humano, relacionado à percepção e integração (mundo interno) dos elementos bons e maus da nossa personalidade. É representada pela vivência do desmame, no qual se elabora a primeira perda e consequentemente, o luto por esta perda. Em função disso, experiências posteriores de perdas e lutos retomam essas vivências primitivas e o modo de enfrentá-las dependerá de características próprias de cada bebê e da sua interação com ambiente, que nesse primeiro momento, é representado pela mãe.
Winnicott (1963) classifica as depressões em dois tipos principais: reativas (simples ou patológicas) ou psicóticas. A distinção do tipo de depressão é realizada através da história inicial do paciente, avaliação do estado de amadurecimento pessoal e da força do ego, que deverá ser realizada pelo psicólogo/analista e fornecerá informações para o manejo analítico durante o tratamento.
Vale ressaltar, que como se trata de uma doença, é importante buscar ajuda especializada de médicos e psicólogos. A medicação, em alguns casos, pode ser necessária. A psicoterapia é imprescindível, pois como já comentado, a depressão se refere a vivências no início do desenvolvimento emocional, sendo necessário entender e reelaborar esses momentos durante o processo terapêutico.
A presença da família e amigos também contribui para a melhora da pessoa doente. É importante salientar para os familiares e amigos que não adianta negar o que a pessoa está sentindo. A melhor forma de ajudar é acolher e contribuir para que a pessoa possa construir um novo estado de viver, como propõe Winnicott (1963).
FREUD, S. Luto e Melancolia. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, ([1915] 1977).
HAUTZINGER, M. Como Lidar com a Depressão. Guia Prático para Familiares e Pacientes que Sofrem Depressão. São Paulo: Hogrefe CETEPP, 2016.
Organização Mundial de Saúde. Relatório Mundial de Saúde. Disponível em: www.who.int Acesso em out. 2020.
WINNICOTT, D. W. Tudo Começa em Casa. São Paulo: Martins Fontes, ([1963] 2005).