A busca por um relacionamento amoroso faz parte da vida afetiva do ser humano, que é marcada pela necessidade de amar e ser amado por alguém. Logo após o nascimento, vivencia-se a primeira relação amorosa, a relação entre o bebê e a mãe, que será fundamental e ira influenciar o desenvolvimento emocional e afetivo.
Para Freud (1931), criador da psicanálise, a mãe é o primeiro objeto de prazer do bebê. Segundo Winnicott (1983), pediatra e psicanalista, a mãe é o ambiente necessário para que o bebê desenvolva suas potencialidades. É ela que oferece sustentação às necessidades do bebê no enfretamento das frustrações. No início, o bebê não percebe o outro como separado de si mesmo, somente aos poucos, desenvolve essa percepção e passa a se interessar pelos outros, como pai e irmãos. Esses vínculos afetivos serão a base para outras relações afetivas estabelecidas durante a vida.
Freud (1914) também nos fornece a compreensão de como se processa as nossas escolhas amorosas. Segundo esse autor, existem dois tipos de escolha de objeto amoroso: uma do tipo narcisista e outra do tipo anaclítico.
O primeiro tipo, narcisista, ocorre a partir do modelo da relação do indivíduo com a sua própria pessoa, ou melhor, é como vivesse um ideal de perfeição de si mesmo. Muitas vezes, trata-se de uma defesa por não ter recebido afeto adequado nas primeiras relações (“boa maternagem”) e tenta compensar o olhar amoroso ao próprio ego (eu). Há também o oposto, aquele que se exibe com um ego inflado, que se fortaleceu desde muito cedo no elogiar excessivo da mãe. Geralmente, essas pessoas apresentam dificuldades em reconhecer seu próprio eu e adotam condutas arrogantes e prepotentes.
Na escolha do tipo anaclítica, Freud (1914) a descreve como uma escolha feita a partir do modelo das figuras parentais. Esse tipo de escolha se refere às experiências e fantasias que a criança teve com seus pais na infância. São muito comuns essas escolhas se prolongarem até a vida adulta, durante a qual essas pessoas buscam estabelecer relações semelhantes a dos pais da infância. Na relação conjugal buscam no(a) parceiro(a) alguém que a(o) proteja e lhe ofereça carinho e amor, como um dia teve ou gostaria de ter tido na infância.
Compreender esse processo de formação da afetividade propicia autoconhecimento e possibilidade de mudança. No entanto, vale salientar que, uma parte significativa desse processo, ocorre de forma inconsciente, sendo necessário procurar um profissional, como um psicólogo, especialista em psicanálise, que possa ajudar na identificação dos sentimentos e emoções que causaram ou ainda causam sofrimentos, de modo que a pessoa possa construir novas significações e estabelecer uma vida afetiva mais saudável.
FREUD, S. Sobre o Narcisismo: Uma Introdução. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Volume XIV. Rio de Janeiro: Imago, ([1914] 1977).
FREUD, S. Sexualidade Feminina. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Volume XXI. Rio de Janeiro: Imago, ([1931]1977).
MORAES, M. M. Relacionamentos Amorosos: Uma escolha do inconsciente. Monografia. UNIP, 2019.